O papel do Farmacêutico ao longo do
século XX.
Os autores
Hepler & Strand realizaram uma análise sobre os três períodos que
consideramos mais importantes da atividade farmacêutica no século XX,
definindo-o como: o tradicional, o de
transição e o de desemvolvimento da atenção ao paciente.
O papel
tradicional foi desemvolvido pelo boticário que preparava e vendia os
medicamentos, fornecendo orientações aos seus clientes sobre o uso dos mesmos.
Era comum prescrevê-los.
Conforme a
indústria farmacêutica começou a se desemvolver, este papel do farmacêutico
paulatinamente foi diminuindo. Começa assim o período de transição. As
atividades farmacêuticas voltaram-se pricipalmente para a produção de
medicamentos numa abordagem
técnico-industrial. Os países do
Primeiro Mundo concentraram-se no desemvolvimento de novos fármacos, e o Brasil
que possui um parque industrial farmacêutico predominante multinacional,
trabalhou a tecnologia farmacêutica adaptando as fórmulas ás condições
climáticas do país.
A publicação
da Lei 5.991/73, que ainda está em vigor, conferiu ás atividades farmacêuticas
um enfoque mercantilista. Qualquer enpreendedor pode ser proprietário de uma
farmácia ou drogaria, desde que conte com um profissional farmacêutico que se
responsabilize tecnicamente pelo estabelecimento.
Este é o marco da perda do papel
social desenvolvido pela farmácia.
O
estabelecimento comercial farmacêutico voltou-se para o lucro e o farmacêutico
começou a perder autonomia para o desempenho de suas atividades. O farmacêutico
passou a atuar como mero empregado da farmácia ou drogaria, perdeu o respeito
da sociedade e refugiou-se em outras atividades, distânciando-se do papel de
agente da saúde. Com isso, apliaram-se os espaçoes para a betenção de lucro
desenfreados através da ‘’empurroterapia’’ e da propaganda desmedidas.
O
medicamentos passou a ser visto como uma solução ‘’mágica’’ para todos os
problemas humanos, assumindo o conceito de bem de consumo em detrimento ao de
bem social.
Mas enfim, o
farmacêutico em meio a uma grave crise de idêntidade profissional iniciou sua
reação fazendo nascer nos anos 60 a prática da fármacia clínica. Passou a se
conscientizar do seu papel para a saúde pública. A prática farmacêutica
orienta-se para a atenção ao paciente e o medicamento passa a ser visto como um
meio ou instrumento para a se alcançar um resultado, seja este paleativo,
curativo ou preventivo. Ou seja a finalidade do trabalho deixa de focar no
medicamento e parte para o paciente.
O lamentável
desastre ocorrido em 1962 em virtude da talidomida por gestantes, ocasionando
uma epidemia de focomelia, desencadeou um novo olhar sobre o uso de
medicamentos e foi marco para o surgimento das ações de farmacovigilância.
Passou-se então ao período de desenvolvimento da atenção ao paciente. Os países
começaram a se preocupar com a promoção do uso racional de medicamentos.
No Brasil a
partir de meados de 1990 a presença marcante
das ações dos conselhos de farmácia e vigilância sanitária em
estabelecimentos comerciais farmacêuticos está mudando o panorama nacional.
Hoje mais do
que nunca é possível encontrar farmacêuticos desempenhando suas funções dentro
das secretárias municipais de saúde, mas o número de profissionais está muito
aquém das reais necessidades. Ainda não está garantida a sua presença em todas
as unidades básicas de saúde, mesmo existindo dispositivo legal que determine
isso.
No entanto
temos que refletir que mudanças estão ocorrendo e que acenam para a melhora dos
serviços oferecidos pela população.
A prevenção
e o tratamento de doenças exigem infra-estrutura adequada, assim como educação
apropriada. Após estas medidas, os medicamentos e as vacinas têm o potêncial de
conferir grandes benefícios à população. No entanto o simbolismo de que se
revestem os medicamentos na sociedade tem contribuido para a utilização
irracional dos mesmos.
Segundo a
Sociedade Brasileira de Vigilância de Medicamentos(Sobravime). O medicamento como parte do complexo médico-industrial
influi na percepção da saúde e da doença, tanto nos profissionais de saúde
quanto na sociedade. O medicamento não se apresenta sozinho – como substância
química – mas está acompanhado por um cotejo de publicidade, informação,
brindes, estudos etc., que vai configurando uma forma de pensar.
Mais
adiante, a Sobravime complementa: a
medicalização de um número crescente de
problemas da vida não constitui apenas um processo individual em que o futuro
consumidor de cuidados médicos se convence de que se encontra na anormalidade.
Trata-se também de um fenômeno coletivo próprio
das sociedades em crescimento que criam uma raridade do normal,
afirmando que este é melhor.
A
medicalização de aspectos da vida chega a ter dimensão tal, que hoje um novo
conceito envolvendo medicamentos começa a ser utilizado: ‘’fármacos do estilo
de vida (lifestyle drugs)’’. Este termo conforme a definição de Flower, diz
respeito aqueles usados para satisfazer a objetivo não médico ou não
relacionado à saúde.
É preocupante
esta forma de aceitação dos medicamentos pela sociedade, tendo em vista o
volume de produtos farmacéuticos comercializados. Dados da Associação
Brasileira de Redes de Fármacias e Drogarias referem que em 2003 estes
estabelecimentos venderam aproximadamente 3,6 bilhões de reais em medicamentos,
contabilizando um total de 260 mil clientes atendidos e 669 milhões de unidades
vendidas.
Estima-se
que nos EUA as reações adversas a medicamentos sejam a quarta ou sexta causa de
morte em hospitais, excendendo as mortes causadas por pneumonia e diabetes. A
morbimortalidade por esta causa é
considerada comum e o custo estimado é de ordem de 136 bilhões de dólares ao
ano.
Uma revisão
sistemática sobre os atendimentos de emergência relacionados ao uso de medicamentos
considerou dados de oito ensaios retrospectivos e quatro prospectivos. Os
resultados indicaram que 28% de todos os atendimentos de emergência estão
relacionados aos medicamentos. Destes atendimentos 70% diziam respeito a
situações evitáveis e 24% deles em internação hospitalar.
Estas mesmas
pesquisas revela que o problema mais comuns relacionados a medicamentos são: as
reações adversas, a não aderência ao tratamento e a prescrição inadequada.
Por Felipe Lira, estudante de farmácia na Faculdade Pernambucana de Saúde