segunda-feira, 7 de abril de 2014

POSSIBILIDADES DE CONTRIBUIÇÃO DO FARMACÊUTICO PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE





















O papel do Farmacêutico ao longo do século XX.
Os autores Hepler & Strand realizaram uma análise sobre os três períodos que consideramos mais importantes da atividade farmacêutica no século XX, definindo-o  como: o tradicional, o de transição e o de desemvolvimento da atenção ao paciente.

O papel tradicional foi desemvolvido pelo boticário que preparava e vendia os medicamentos, fornecendo orientações aos seus clientes sobre o uso dos mesmos. Era comum prescrevê-los.

Conforme a indústria farmacêutica começou a se desemvolver, este papel do farmacêutico paulatinamente foi diminuindo. Começa assim o período de transição. As atividades farmacêuticas voltaram-se pricipalmente para a produção de medicamentos numa abordagem  técnico-industrial.  Os países do Primeiro Mundo concentraram-se no desemvolvimento de novos fármacos, e o Brasil que possui um parque industrial farmacêutico predominante multinacional, trabalhou a tecnologia farmacêutica adaptando as fórmulas ás condições climáticas do país.

A publicação da Lei 5.991/73, que ainda está em vigor, conferiu ás atividades farmacêuticas um enfoque mercantilista. Qualquer enpreendedor pode ser proprietário de uma farmácia ou drogaria, desde que conte com um profissional farmacêutico que se responsabilize tecnicamente pelo estabelecimento.

Este é o marco da perda do papel social desenvolvido  pela farmácia.
O estabelecimento comercial farmacêutico voltou-se para o lucro e o farmacêutico começou a perder autonomia para o desempenho de suas atividades. O farmacêutico passou a atuar como mero empregado da farmácia ou drogaria, perdeu o respeito da sociedade e refugiou-se em outras atividades, distânciando-se do papel de agente da saúde. Com isso, apliaram-se os espaçoes para a betenção de lucro desenfreados através da ‘’empurroterapia’’ e da propaganda desmedidas.

O medicamentos passou a ser visto como uma solução ‘’mágica’’ para todos os problemas humanos, assumindo o conceito de bem de consumo em detrimento ao de bem social.

Mas enfim, o farmacêutico em meio a uma grave crise de idêntidade profissional iniciou sua reação fazendo nascer nos anos 60 a prática da fármacia clínica. Passou a se conscientizar do seu papel para a saúde pública. A prática farmacêutica orienta-se para a atenção ao paciente e o medicamento passa a ser visto como um meio ou instrumento para a se alcançar um resultado, seja este paleativo, curativo ou preventivo. Ou seja a finalidade do trabalho deixa de focar no medicamento e parte para o paciente.

O lamentável desastre ocorrido em 1962 em virtude da talidomida por gestantes, ocasionando uma epidemia de focomelia, desencadeou um novo olhar sobre o uso de medicamentos e foi marco para o surgimento das ações de farmacovigilância. Passou-se então ao período de desenvolvimento da atenção ao paciente. Os países começaram a se preocupar com a promoção do uso racional de medicamentos.

No Brasil a partir de meados de 1990 a presença marcante  das ações dos conselhos de farmácia e vigilância sanitária em estabelecimentos comerciais farmacêuticos está mudando o panorama nacional.

Hoje mais do que nunca é possível encontrar farmacêuticos desempenhando suas funções dentro das secretárias municipais de saúde, mas o número de profissionais está muito aquém das reais necessidades. Ainda não está garantida a sua presença em todas as unidades básicas de saúde, mesmo existindo dispositivo legal que determine isso.

No entanto temos que refletir que mudanças estão ocorrendo e que acenam para a melhora dos serviços oferecidos pela população.


A prevenção e o tratamento de doenças exigem infra-estrutura adequada, assim como educação apropriada. Após estas medidas, os medicamentos e as vacinas têm o potêncial de conferir grandes benefícios à população. No entanto o simbolismo de que se revestem os medicamentos na sociedade tem contribuido para a utilização irracional dos mesmos.

Segundo a Sociedade Brasileira de Vigilância de Medicamentos(Sobravime). O medicamento como parte do complexo médico-industrial influi na percepção da saúde e da doença, tanto nos profissionais de saúde quanto na sociedade. O medicamento não se apresenta sozinho – como substância química – mas está acompanhado por um cotejo de publicidade, informação, brindes, estudos etc., que vai configurando uma forma de pensar.

Mais adiante, a Sobravime complementa: a medicalização de um número crescente  de problemas da vida não constitui apenas um processo individual em que o futuro consumidor de cuidados médicos se convence de que se encontra na anormalidade. Trata-se também de um fenômeno coletivo próprio  das sociedades em crescimento que criam uma raridade do normal, afirmando que este é melhor.

A medicalização de aspectos da vida chega a ter dimensão tal, que hoje um novo conceito envolvendo medicamentos começa a ser utilizado: ‘’fármacos do estilo de vida (lifestyle drugs)’’. Este termo conforme a definição de Flower, diz respeito aqueles usados para satisfazer a objetivo não médico ou não relacionado à saúde.

É preocupante esta forma de aceitação dos medicamentos pela sociedade, tendo em vista o volume de produtos farmacéuticos comercializados. Dados da Associação Brasileira de Redes de Fármacias e Drogarias referem que em 2003 estes estabelecimentos venderam aproximadamente 3,6 bilhões de reais em medicamentos, contabilizando um total de 260 mil clientes atendidos e 669 milhões de unidades vendidas.

Estima-se que nos EUA as reações adversas a medicamentos sejam a quarta ou sexta causa de morte em hospitais, excendendo as mortes causadas por pneumonia e diabetes. A morbimortalidade  por esta causa é considerada comum e o custo estimado é de ordem de 136 bilhões de dólares ao ano.

Uma revisão sistemática sobre os atendimentos de emergência relacionados ao uso de medicamentos considerou dados de oito ensaios retrospectivos e quatro prospectivos. Os resultados indicaram que 28% de todos os atendimentos de emergência estão relacionados aos medicamentos. Destes atendimentos 70% diziam respeito a situações evitáveis e 24% deles em internação hospitalar.


Estas mesmas pesquisas revela que o problema mais comuns relacionados a medicamentos são: as reações adversas, a não aderência ao tratamento e a prescrição inadequada.


Por Felipe Lira, estudante de farmácia na Faculdade Pernambucana de Saúde