quarta-feira, 21 de outubro de 2015

SHIRLEY VALENTINE E O SER DA COMPREENSÃO

 “Ele costumava me amar, por que eu era doida e ainda pensa que sou doida. Sabe o que eu gostaria de fazer parede? Gostaria de beber um copo de vinho onde crescem as uvas, sentada ao mar apenas... olhando o sol se pôr.” (Shirley Valentine)
O filme Shirley Valentine nos remete a uma nova percepção do que seja realmente a atuação do psicólogo junto ao seu cliente, mais do que uma simples escuta e um olhar diferenciado, a protagonista nos mostra que é preciso acreditar em si mesmo e sair da zona de conforto que está inserida o ser humano, sempre mostrando que não é algo tão simples assim, porém é preciso ter foco e determinação para que haja uma recuperação plena da autoestima e assim perceber-se enquanto pessoa, e mulher. O livro: O Ser da Compreensão nos fala que a clínica é o lugar onde trabalhamos a reeducação, a prevenção, portanto a Clínica Fenomenológica veio para mudar e refletir sobre a nossa prática. Para Augras o grande agente da patologização da fala cotidiana é,
sem dúvida, a psicanálise. Avaliar não é o suficiente para entendermos o que se manifesta ali, e assim termos uma avaliação mais profunda. O diagnóstico sempre foi feito de fora para dentro, é preciso repensarmos nossa prática é o que propõe a autora, pois o sujeito é participante desta construção e não um mero observador. Podemos ver que desde o início do filme Shirley Valentine era puro conflito, consigo mesma. Mas, o que seria o conflito para a fenomenologia? É preciso entender que somos seres humanos e somos conflito, faz parte de nossa existência, pois se trata da presença do meu EU em tantos EUs, um bom exemplo é quando ela se depara com a situação do cão, que por regras da casa de seus donos não pode ser ele mesmo, um animal que gosta de comer carne. E Shirley ao ver esta situação sente-se questionada com o que realmente faz parte da natureza do cão que é um ser vivo, portanto acaba se deparando com os primeiros questionamentos desse ser real. Rogers concluiu que a ideia do eu “não representa uma acumulação de inumeráveis aprendizagens e condicionamentos efetuados na mesma direção... Essencialmente é uma gestalt cuja significação vivida é suscetível de mudar sensivelmente (e até mesmo sofrer uma reviravolta) em consequência da mudança de qualquer desses elementos” (1959). Portanto compreendemos que o self trata-se de uma gestalt organizada e consistente num processo constante de formar-se e reformar-se à medida que as situações mudam. Ao compreendermos o contexto o qual se encontra a personagem entendemos que avaliar este sujeito é observar suas nuances, porém de uma forma integrada. Quando entramos no mundo do outro deve ser de forma integra, até por que não entramos no mundo do outro sem que haja modificações no outro e em nós.
A essência para a fenomenologia é estável e não estático. Sabemos que no processo de avaliação iremos buscar o que se apresenta através do comportamento do sujeito, portanto sua estabilidade x instabilidade. Partindo do pressuposto do que seja saúde podemos entender que é o processo de se atualizar com o mundo entrando em acordo com o movimento da vida. Mas, o que é realmente atualizar-se com o mundo? Podemos perceber que no filme, Shirley Valentine busca seu processo de metamorfose e parte para a busca de si própria, e que a partir de novas descobertas ela começa a perceber o seu mundo e o mundo ao redor de forma diferente. O homem, gênero ou individuo, apresenta-se sob um triplo aspecto: representando determinada série animal, ele é natureza; como autor e suporte de um processo constante de manejamento da natureza e dele próprio, ele é história; abrangendo a natureza e a história, é existência. Para Heidegger, a substância do homem não é o espírito-síntese da alma e do corpo – é a existência. O tempo é a nossa história, esta afirmação nos remete para o comportamento anterior e da atual Shirley Valentine. Em sua juventude ela pôde ser ela mesma apesar de suas transgressões, mas mesmo assim lhe faltava algo e as comparações que a professora fazia dela com a aluna mais inteligente da sala, fez com que ela fosse perdendo o que havia de mais belo nela mesmo, a sua essência. Longe de ser exterior ao homem, o tempo é extensão e criação da realidade humana. É paradoxalmente condição de sua existência e garantia da sua impermanência. Porque o homem cria o tempo, mas não o determina. Falar do tempo é descrever toda insegurança ontológica do homem. Vê-se o quanto a psicologia tradicional do tempo, limitada a experimentos sobre a percepção do mesmo ou perdida em especulações acerca da oposição entre vivência individual e duração “objetiva”, deixa de lado uma problemática bem mais funda, que a fenomenologia trouxe à luz: o tempo como construção (AUGRAS, p. 27). Constituímos-nos a partir do tempo e do espaço, o lugar (o meu lugar) é uma continuação de mim. No espaço da coexistência, os homens tecem redes que os aproximam e os afastam, organizando o mundo de maneira a assegurar áreas recíprocas de movimentação. Para Heidegger, o espaço só pode ser compreendido a partir do mundo. O mundo humano é essencialmente mundo da coexistência. O homem define-se como ser social e o crescimento individual dependem em todos os aspectos, do encontro com os demais. “Eu não sou eu nem sou o outro, sou qualquer coisa de intermédio; pilar da ponte de tédio, que vai de mim para o outro.”
Para Heidegger, o verbo e o conflito são a mesma coisa. Tanto a necessidade de colocar-se perante o outro, de integrá-lo, de superar a autonomia identidade – alteridade, quanto a conscientização do sentimento de estranheza, levam ao afã de compreender, explicitar, formular a  situação do ser no mundo.
“E havia feição real naquele beijo,
foi o beijo mais doce
que conheci
em anos.”
O espectador assume a co-autoria da obra, na medida em que se torne autor da sua liberdade. O artista age então como mediador, que, ao criar a obra, cria-se a si próprio e propicia o auto-reconhecimento do espectador.
·         “Sonhos – levo a mesa para a beira do mar e torno seu sonho realidade. Esta noite tornei o sonho de alguém realidade.” (Costas)
·         “Por que temos toda essa vida se jamais a usamos? Porque temos sentimentos, sonhos se jamais a usamos? Foi onde Shirley Valentine se perdeu.....”
“Me apaixonei pela ideia de viver.”



Shirley Valentine



Érica Rogéria Cândida da Silva
Professora: Graça Diniz
10º período – Psicologia
2015.2