domingo, 6 de setembro de 2015

Texto 1: A Chegada ao Plantão Psicológico

Por Luan Lins

Acredito que o sonho de grande parte do estudantes de psicologia é chegar ao momento da prática e colocar em ação, tudo aquilo que foi estudado durante madrugadas e fins de semana a fio, onde se é abdicado das festas, viagens, passeios e outros aparatos sociais aos quais temos que suspender em prol da nossa formação. Comigo não é diferente. Atualmente estou no oitavo período do curso de Psicologia, e na instituição onde estudo, iniciamos a prática curricular no oitavo período. Esta prática é a do Plantão Psicológico. O plantão não é uma modalidade usual e padrão para todos os cursos, porém, deixarei nas referências, artigos que falam um pouco sobre esta modalidade. De forma pontual, Tassinari define o plantão psicológico da seguinte forma:

“Em uma primeira aproximação pode-se definir o Plantão Psicológico como um tipo de atendimento psicológico, que se completa em si mesmo, realizado em uma ou mais consultas sem duração pré-determinada, objetivando receber qualquer pessoa no momento de sua necessidade para ajudá-la a compreender melhor sua emergência e, se necessário, encaminhá-la a outros serviços. Tanto o tempo da consulta, quanto os retornos dependem de decisões conjuntas (plantonista/cliente) no decorrer do atendimento.” (2001, p. 2)

É no plantão, onde temos o nosso primeiro contato com o cliente, e para isso, é necessário muito estudo, supervisão e psicoterapia. É essa tríade que vai nos dar condições pra o atendimento.
Inicialmente fui tomado pela ansiedade de chegar a clínica e atender logo, mas descobri que não funciona assim. Sempre tive comigo o pensamento de que psicologia –seja ela qual for a atuação- tem um papel importante e sua intervenção é como se fosse um instrumento utilizado por um neurocirurgião, onde deslizes podem afetar a vida do cliente em diversos níveis. Acho que nem preciso dizer, que o senso de responsabilidade aumenta bastante e que no meu caso, beneficamente me faz pesquisar mais e preencher algumas lacunas que ficaram abertas durante a minha formação. Ai, entra o papel importantíssimo da supervisão. Acho que minha supervisora tem sido essencial para a minha preparação. Nos estudos e reflexões sobre os textos e temas abordados durante os encontros.
Durante os momentos de estudo e supervisão, tem ficado muito claro pra mim, que a minha ansiedade é basicamente pelo fato de querer falar, de orientar, de resolver, em fim. Mas, ela tem abrandado bastante, principalmente quando eu aprendo que na relação com o cliente, eu preciso colocar as teorias, convicções e valores no bolso e suspender (redução fenomenológica), e apenas escutar. Escutar, o que difere do ouvir. Escutar é estar focado e ativo no conteúdo trazido pelo cliente. Existem relatos teóricos que evidenciam a mudança e o impacto positivo que o ato de escutar causa no outro. Confesso que isso é lindo, mas, é necessário muito trabalho pessoal para que a suspensão dos valores seja feita de forma correta e a escuta seja verdadeira. Daí, a importância da psicoterapia. Acho que está claro pra todos os estudantes e profissionais que a psicoterapia é fundamental em todo o processo – se você não está, que tal começar? -, pois ela te dá suporte para lidar com os conteúdos trazidos pelos clientes. Desde então, muita coisa tem mudado, dentre elas, o meu pensamento em relação ao cuidado do outro. É no plantão onde a visão unicamente ‘diagnóstica’ e ‘curativa’ é descontruída. Chegamos muitas vezes focados na patologia e na “cura”. E acredito que seja importante frizar, que não é papel do psicólogo curar. O psicólogo atua como facilitador da compreensão das queixas do cliente e é o cliente que vai orientar todo o processo.

 


















Bom, estou subindo os degraus e já, já estarei no atendimento do plantão. Confesso que dá uma friezinha no estômago pensar como será o primeiro atendimento, mas estou disponível e aberto para me aproximar do self do cliente e ajuda-lo na compreensão das suas queixas e demandas e contribuir para que ele encontre estratégias para o seu pleno desenvolvimento e progresso.

Em breve escreverei um pouco sobre as minhas impressões do primeiro atendimento e como tem se desenrolado os processos do plantão e supervisão. 

Referências
TASSINARI, Marcia Alves. Plantão Psicológico: atendendo no momento da necessidade. In VIII Colóquio de Sociologia Clínica e Psicossociologia. UFMG, 2001.
MORATO, HenrietteTognetti Penha(Org.). Serviço de Aconselhamento Psicológico do IPUSP: aprendizagem significativa em ação. In Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa: novos desafios.São Paulo, Casa do Psicólogo, 1999, p.33-43.
MAHFOUD, Miguel. A Vivência de um desafio: plantão psicológico. In Rosenberg, R.L. (org.), Temas Básicos em Psicologia. São Paulo:E.P.U, pp.75-83, 1987.
LIMA, Elizandra Ferreira. Plantão Psicológico. Recife, UFPE, Trabalho de Monografia. Cap. 2.