quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

O PRECIPÍCIO














Mundo Contemporâneo... Interessante ideia a de um mundo contemporâneo: amanhã será sempre o contemporâneo de hoje. O contemporâneo carrega representações daquilo que é do nosso tempo. Mas qual tempo o nosso? O tempo corre mais rápido que nossas pernas – não o alcançamos mais. Talvez, hoje, a tecnologia da conexão dite nosso tempo, sem que nos apercebamos disso.
Estamos hoje assim, todos conectados. Nossos smartphones, nunca no modelo mais novo, posto que o novo é muito mais rápido que nossa corrida em busca de tecnologia avançada, vibram e apitam, nos conectando ao Mundo. Entenda-se, isso não é ruim... Não faço aqui um apelo romântico-depressivo de como era bom o tempo do lampião de gás. Hoje somos criaturas humano-tecnológicas, talvez cada vez mais tecnológicas – no sentido de excesso do termo. Todos nós queremos, literalmente, sair bem na foto. Como nossos heróis morreram de overdose, ou viraram franquias cinematográficas, criamos, através da “pseudo-celebridade” (que particularmente considero um tumor de nosso tempo), a possibilidade de sermos, nós mesmos, “celebridades”, nos reinventando apressadamente e precipitadamente a cada minuto.
Nunca estivemos tão ao alcance de todos e de tudo. Nunca estivemos tão desencontrados. Não nos encontramos mais, pelo menos a frequência vem diminuindo vertiginosamente. Estamos a perder a capacidade perceptiva do “olho no olho”, da leitura primitiva da gestualidade, do famoso clima de “química”, nos entregando, na maioria das vezes, em um conjunto de textos prontos, palavras soltas sem sentido, no aguardo de um retorno esvaziado, sem sujeito – pois quem é o sujeito por trás da frase virtual?
As redes sociais de todo tipo, múltiplas e muitas, servem para arrumar, arranjar e ajustar encontros desencontrados. As pessoas adicionam, clicam e esperam. Se o retorno da clicada não vem, não surge, a angústia torna-se silenciosamente incomensurável: estamos fora do pretenso encontro, assujeitados à fantasias de rejeição. Às vezes, esbarramos em persecutoriedade paranoica. Podemos apontar também para a criação de um micro espaço imperialista, onde deve prevalecer a ideia de um, em detrimento do todo, considerado como sendo empobrecido resto. Criamos um império para a celebridade que acreditamos ser: ideias e frases vazias, ideologias sem fundamento, fotos e mazelas de nosso cotidiano, correntes e mais correntes de mensagens religiosas de todos os tipos, mergulhadas em um precipício vazio (e como são irritantes, invasivas, violentas). Porém, encontramos também, pequenos espaços de discussões críticas e construtivas, bem fundamentadas, que promovem troca de ideias – pequenos e raros, mas ricos espaços. No fundo, com raras exceções, queremos apenas ser notados pelo outro, admirados, sermos referência para alguma coisa... Excesso de nós.

Winnicott encontrou, na capacidade de ficar sozinho, um sinal de maturidade emocional – espécie de medida justa na relação entre o Eu e o Mundo.
A capacidade de ficar sozinho está longe da qualquer ideia ligada à solidão. Ficar sozinho não é desabar no precipício da Solidão. Ficar sozinho é suportar-se consigo mesmo, na ausência do outro. Um suportar-se temporário, mesmo no decorrer de um processo de luto real, já que o outro, internalizado, não desaparece simplesmente. A imagem que Winnicott utiliza é a da mãe que sabe ser necessário entregar seu filho ao Mundo, e deste filho que vai adquirindo a capacidade de andar, sem a mãe, pelo Mundo – eterna descoberta, aterrorizante portanto.
Suportar-se com seus fantasmas e terrores implica maturidade.

Com nosso polegar opositor, a teclar nossos smartphones, às vezes maníaca e freneticamente, muitas vezes nos defendemos desta ausência – ausência do outro, que nos coloca em contato direto conosco, em um mergulho vertical em nós, do qual o contemporâneo declara como insustentável possibilidade.
“Ele não vai responder?”; “Será que ela não gostou de mim?”; “Por que não curtiram meu post?”; “Por que não me adicionaram?”...
E assim ficamos, em silenciosa angústia, a esperar o retorno da mensagem que enviamos. E esperamos, esperamos e esperamos – em uma insustentável ausência do ser.

MARCOS INHAUSER SORIANO é psicanalista, membro do Corpo Editorial da REVISTA VÓRTICE DE PSICANÁLISE.

REVISTA VÓRTICE DE PSICANÁLISE: http://www.revistavortice.com.br

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

SHIRLEY VALENTINE E O SER DA COMPREENSÃO

 “Ele costumava me amar, por que eu era doida e ainda pensa que sou doida. Sabe o que eu gostaria de fazer parede? Gostaria de beber um copo de vinho onde crescem as uvas, sentada ao mar apenas... olhando o sol se pôr.” (Shirley Valentine)
O filme Shirley Valentine nos remete a uma nova percepção do que seja realmente a atuação do psicólogo junto ao seu cliente, mais do que uma simples escuta e um olhar diferenciado, a protagonista nos mostra que é preciso acreditar em si mesmo e sair da zona de conforto que está inserida o ser humano, sempre mostrando que não é algo tão simples assim, porém é preciso ter foco e determinação para que haja uma recuperação plena da autoestima e assim perceber-se enquanto pessoa, e mulher. O livro: O Ser da Compreensão nos fala que a clínica é o lugar onde trabalhamos a reeducação, a prevenção, portanto a Clínica Fenomenológica veio para mudar e refletir sobre a nossa prática. Para Augras o grande agente da patologização da fala cotidiana é,
sem dúvida, a psicanálise. Avaliar não é o suficiente para entendermos o que se manifesta ali, e assim termos uma avaliação mais profunda. O diagnóstico sempre foi feito de fora para dentro, é preciso repensarmos nossa prática é o que propõe a autora, pois o sujeito é participante desta construção e não um mero observador. Podemos ver que desde o início do filme Shirley Valentine era puro conflito, consigo mesma. Mas, o que seria o conflito para a fenomenologia? É preciso entender que somos seres humanos e somos conflito, faz parte de nossa existência, pois se trata da presença do meu EU em tantos EUs, um bom exemplo é quando ela se depara com a situação do cão, que por regras da casa de seus donos não pode ser ele mesmo, um animal que gosta de comer carne. E Shirley ao ver esta situação sente-se questionada com o que realmente faz parte da natureza do cão que é um ser vivo, portanto acaba se deparando com os primeiros questionamentos desse ser real. Rogers concluiu que a ideia do eu “não representa uma acumulação de inumeráveis aprendizagens e condicionamentos efetuados na mesma direção... Essencialmente é uma gestalt cuja significação vivida é suscetível de mudar sensivelmente (e até mesmo sofrer uma reviravolta) em consequência da mudança de qualquer desses elementos” (1959). Portanto compreendemos que o self trata-se de uma gestalt organizada e consistente num processo constante de formar-se e reformar-se à medida que as situações mudam. Ao compreendermos o contexto o qual se encontra a personagem entendemos que avaliar este sujeito é observar suas nuances, porém de uma forma integrada. Quando entramos no mundo do outro deve ser de forma integra, até por que não entramos no mundo do outro sem que haja modificações no outro e em nós.
A essência para a fenomenologia é estável e não estático. Sabemos que no processo de avaliação iremos buscar o que se apresenta através do comportamento do sujeito, portanto sua estabilidade x instabilidade. Partindo do pressuposto do que seja saúde podemos entender que é o processo de se atualizar com o mundo entrando em acordo com o movimento da vida. Mas, o que é realmente atualizar-se com o mundo? Podemos perceber que no filme, Shirley Valentine busca seu processo de metamorfose e parte para a busca de si própria, e que a partir de novas descobertas ela começa a perceber o seu mundo e o mundo ao redor de forma diferente. O homem, gênero ou individuo, apresenta-se sob um triplo aspecto: representando determinada série animal, ele é natureza; como autor e suporte de um processo constante de manejamento da natureza e dele próprio, ele é história; abrangendo a natureza e a história, é existência. Para Heidegger, a substância do homem não é o espírito-síntese da alma e do corpo – é a existência. O tempo é a nossa história, esta afirmação nos remete para o comportamento anterior e da atual Shirley Valentine. Em sua juventude ela pôde ser ela mesma apesar de suas transgressões, mas mesmo assim lhe faltava algo e as comparações que a professora fazia dela com a aluna mais inteligente da sala, fez com que ela fosse perdendo o que havia de mais belo nela mesmo, a sua essência. Longe de ser exterior ao homem, o tempo é extensão e criação da realidade humana. É paradoxalmente condição de sua existência e garantia da sua impermanência. Porque o homem cria o tempo, mas não o determina. Falar do tempo é descrever toda insegurança ontológica do homem. Vê-se o quanto a psicologia tradicional do tempo, limitada a experimentos sobre a percepção do mesmo ou perdida em especulações acerca da oposição entre vivência individual e duração “objetiva”, deixa de lado uma problemática bem mais funda, que a fenomenologia trouxe à luz: o tempo como construção (AUGRAS, p. 27). Constituímos-nos a partir do tempo e do espaço, o lugar (o meu lugar) é uma continuação de mim. No espaço da coexistência, os homens tecem redes que os aproximam e os afastam, organizando o mundo de maneira a assegurar áreas recíprocas de movimentação. Para Heidegger, o espaço só pode ser compreendido a partir do mundo. O mundo humano é essencialmente mundo da coexistência. O homem define-se como ser social e o crescimento individual dependem em todos os aspectos, do encontro com os demais. “Eu não sou eu nem sou o outro, sou qualquer coisa de intermédio; pilar da ponte de tédio, que vai de mim para o outro.”
Para Heidegger, o verbo e o conflito são a mesma coisa. Tanto a necessidade de colocar-se perante o outro, de integrá-lo, de superar a autonomia identidade – alteridade, quanto a conscientização do sentimento de estranheza, levam ao afã de compreender, explicitar, formular a  situação do ser no mundo.
“E havia feição real naquele beijo,
foi o beijo mais doce
que conheci
em anos.”
O espectador assume a co-autoria da obra, na medida em que se torne autor da sua liberdade. O artista age então como mediador, que, ao criar a obra, cria-se a si próprio e propicia o auto-reconhecimento do espectador.
·         “Sonhos – levo a mesa para a beira do mar e torno seu sonho realidade. Esta noite tornei o sonho de alguém realidade.” (Costas)
·         “Por que temos toda essa vida se jamais a usamos? Porque temos sentimentos, sonhos se jamais a usamos? Foi onde Shirley Valentine se perdeu.....”
“Me apaixonei pela ideia de viver.”



Shirley Valentine



Érica Rogéria Cândida da Silva
Professora: Graça Diniz
10º período – Psicologia
2015.2

domingo, 6 de setembro de 2015

Texto 1: A Chegada ao Plantão Psicológico

Por Luan Lins

Acredito que o sonho de grande parte do estudantes de psicologia é chegar ao momento da prática e colocar em ação, tudo aquilo que foi estudado durante madrugadas e fins de semana a fio, onde se é abdicado das festas, viagens, passeios e outros aparatos sociais aos quais temos que suspender em prol da nossa formação. Comigo não é diferente. Atualmente estou no oitavo período do curso de Psicologia, e na instituição onde estudo, iniciamos a prática curricular no oitavo período. Esta prática é a do Plantão Psicológico. O plantão não é uma modalidade usual e padrão para todos os cursos, porém, deixarei nas referências, artigos que falam um pouco sobre esta modalidade. De forma pontual, Tassinari define o plantão psicológico da seguinte forma:

“Em uma primeira aproximação pode-se definir o Plantão Psicológico como um tipo de atendimento psicológico, que se completa em si mesmo, realizado em uma ou mais consultas sem duração pré-determinada, objetivando receber qualquer pessoa no momento de sua necessidade para ajudá-la a compreender melhor sua emergência e, se necessário, encaminhá-la a outros serviços. Tanto o tempo da consulta, quanto os retornos dependem de decisões conjuntas (plantonista/cliente) no decorrer do atendimento.” (2001, p. 2)

É no plantão, onde temos o nosso primeiro contato com o cliente, e para isso, é necessário muito estudo, supervisão e psicoterapia. É essa tríade que vai nos dar condições pra o atendimento.
Inicialmente fui tomado pela ansiedade de chegar a clínica e atender logo, mas descobri que não funciona assim. Sempre tive comigo o pensamento de que psicologia –seja ela qual for a atuação- tem um papel importante e sua intervenção é como se fosse um instrumento utilizado por um neurocirurgião, onde deslizes podem afetar a vida do cliente em diversos níveis. Acho que nem preciso dizer, que o senso de responsabilidade aumenta bastante e que no meu caso, beneficamente me faz pesquisar mais e preencher algumas lacunas que ficaram abertas durante a minha formação. Ai, entra o papel importantíssimo da supervisão. Acho que minha supervisora tem sido essencial para a minha preparação. Nos estudos e reflexões sobre os textos e temas abordados durante os encontros.
Durante os momentos de estudo e supervisão, tem ficado muito claro pra mim, que a minha ansiedade é basicamente pelo fato de querer falar, de orientar, de resolver, em fim. Mas, ela tem abrandado bastante, principalmente quando eu aprendo que na relação com o cliente, eu preciso colocar as teorias, convicções e valores no bolso e suspender (redução fenomenológica), e apenas escutar. Escutar, o que difere do ouvir. Escutar é estar focado e ativo no conteúdo trazido pelo cliente. Existem relatos teóricos que evidenciam a mudança e o impacto positivo que o ato de escutar causa no outro. Confesso que isso é lindo, mas, é necessário muito trabalho pessoal para que a suspensão dos valores seja feita de forma correta e a escuta seja verdadeira. Daí, a importância da psicoterapia. Acho que está claro pra todos os estudantes e profissionais que a psicoterapia é fundamental em todo o processo – se você não está, que tal começar? -, pois ela te dá suporte para lidar com os conteúdos trazidos pelos clientes. Desde então, muita coisa tem mudado, dentre elas, o meu pensamento em relação ao cuidado do outro. É no plantão onde a visão unicamente ‘diagnóstica’ e ‘curativa’ é descontruída. Chegamos muitas vezes focados na patologia e na “cura”. E acredito que seja importante frizar, que não é papel do psicólogo curar. O psicólogo atua como facilitador da compreensão das queixas do cliente e é o cliente que vai orientar todo o processo.

 


















Bom, estou subindo os degraus e já, já estarei no atendimento do plantão. Confesso que dá uma friezinha no estômago pensar como será o primeiro atendimento, mas estou disponível e aberto para me aproximar do self do cliente e ajuda-lo na compreensão das suas queixas e demandas e contribuir para que ele encontre estratégias para o seu pleno desenvolvimento e progresso.

Em breve escreverei um pouco sobre as minhas impressões do primeiro atendimento e como tem se desenrolado os processos do plantão e supervisão. 

Referências
TASSINARI, Marcia Alves. Plantão Psicológico: atendendo no momento da necessidade. In VIII Colóquio de Sociologia Clínica e Psicossociologia. UFMG, 2001.
MORATO, HenrietteTognetti Penha(Org.). Serviço de Aconselhamento Psicológico do IPUSP: aprendizagem significativa em ação. In Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa: novos desafios.São Paulo, Casa do Psicólogo, 1999, p.33-43.
MAHFOUD, Miguel. A Vivência de um desafio: plantão psicológico. In Rosenberg, R.L. (org.), Temas Básicos em Psicologia. São Paulo:E.P.U, pp.75-83, 1987.
LIMA, Elizandra Ferreira. Plantão Psicológico. Recife, UFPE, Trabalho de Monografia. Cap. 2.

domingo, 28 de junho de 2015

Casamento Gay - Dos EUA ao Brasil, Milhas de Celebrações


















Por Djair Junior



Eis que o azul do céu virtual amanheceu colorido. Não era o arco-íris resultante de gotículas de chuva e raios de sol, mas tratava-se de um arco-íris de celebração. O arco-íris não resultara das chuvas de Junho, mas de décadas de lutas e resistência de um povo que não quer nada além de direitos igualitários assegurados.
No dia 26 de Junho de 2015,  a Suprema Corte dos Estados Unidos da América (EUA) decidiu invalidar os vetos postos por alguns estados conservadores, legalizando assim, o casamento igualitário em todo o seu território. Esta medida tem grande importância, pois a ‘’autonomia’’ dos Estados americanos aliados ao conservadorismo, por muitos anos serviu como justificativa para que 14 dos 50 Estados não validassem este direito. (em 2004 o Estado de Massachusetts se tornou o primeiro do país a legalizar o casamento homossexual).
Aqui no Brasil desde 2011- através do reconhecimento do direito a União Estável para todos - os casais homossexuais puderam, por lei, usufruir dos mesmos direitos de um casal heterossexual. Apesar de se tratar de um conquista importante, este primeiro passo não foi o suficiente para garantir tal direito. Até o ano de 2013 foram documentados casos de juizes que se negavam a realizar estas uniões.
Como resposta a esta resistência, no dia 14 de maio de 2013, foi aprovada uma resolução que obriga todos os cartórios em território nacional a celebrar o casamento civil entre homossexuais, bem como realizar as conversões da união estável em casamento civil em todos os estados. Sim, caro leitor, o Brasil foi o 15° país no mundo e o 4°país americano a  reconhecer legalmente os direitos civis dos homossexuais.
Por  estratégia de marketing ou não, a tela da rede social mais utilizada pelos brasileiros - Facebook -  ofereceu a possibilidade de estampar nas fotos dos perfis dos usuários uma transparência com a bandeira do movimento LGBTT. O mesmo Brasil, que na rede social celebrou a conquista americana, ainda mostra-se resistente e ignorante ao asseguramento de alguns direitos humanos aos LGBTT’s.Listarei brevemente, algumas incoerências entre o que é garantido legalmente e o que é realizado na prática.
No site da Câmara dos Deputados, está sendo votada a aceitação ou negação da sociedade brasileira ao conceito de núcleo família presente no P.L do Estatuto da família. Com a pergunta: Você concorda com a definição de família como núcleo formado a partir da união entre homem e mulher, previsto no projeto de lei que cria o Estatuto da Família? Presenciamos de maneira explicita uma tentativa de retrocesso a uma não admissão de que existem uniões que não se enquadrem em um padrão heteronormativo. Ainda mais assustador é saber que até o momento em que escrevo este texto 4.383.021 pessoas, são coniventes com esse conceito reducionista.(Acessado em <http://www2.camara.leg.br/enquetes/resultadoEnquete/enquete/101CE64E-8EC3-436C-BB4A-457EBC94DF4E> em 29/06/2015).
Permitimos a união entre as pessoas do mesmo sexo, mas não ousem gritar um: ‘’Pode beijar o noivo!’’, pois somos líderes mundiais em crimes homofóbicos. No ano de 2014, foram registradas pelo Grupo Gay da Bahia 326 casos letais de homofobia. O conservadorismo e fundamentalismo arraigado em nosso pais e reforçado pela presença de um grande número de religiosos nos mais diversos casos políticos, não permite que avancemos para um modelo de sociedade de fato igualitária, onde todos tenham direito de ir e vir, de amar sem ser crucificado, de constituir famílias aos seus modos e de ter segurança e direito a vida.(  Acessado em : https://homofobiamata.wordpress.com/ em 29/06/2015).
Devemos celebrar o direito ao casamento gay nos Estados Unidos, como quem celebra uma conquista para o mundo. A lei garantirá que mais uma parcela da população mundial tenha direitos iguais no que se refere ao casamento e isso não se reduz a terras americanas, pois conquistas humanas são conquistas do mundo.  Que o Brasil e os Estados Unidos se aprimorem em garantias de direitos iguais e que sirvam de exemplo para outras nações. Que possamos somar as milhas de distâncias entre os Estados ás suas conquistas e convertamos em celebração ao amor. Só assim, veremos nos céus - virtuais ou reais - novos arco-íris, reflexos de tantas lutas.


segunda-feira, 1 de junho de 2015

ALGUMAS NOTAS SOBRE O FUTURO DO PRETÉRITO


















1. Futuro do Pretérito, tempo verbal que enuncia um fato que poderia ter ocorrido posteriormente a um determinado fato passado.
Freud nos diz que as histéricas sofrem de reminiscências. Talvez todos nós soframos de reminiscências. No relicário de nossa memória, de nossas lembranças, encontram-se representações periféricas que não possuem nome. São “aquilo” que nos acusa do que poderíamos ter sido e não se fez em nós. Um “a posteriori” sempre marcando presença na ausência do que não podemos ser, uma sombra de nós mesmos, o negativo de nossas possibilidades – sempre infinitas, sempre infinitas. O lastro de nosso umbigo.

2. Diz de um futuro em relação a outro, já ocorrido.
No filme “The Butterfly Effect”, de Eric Bress e J. Mackye Gruber (2004), Evan Treborn, um estudante universitário de vinte anos de idade, sofre os efeitos de um sistema dinâmico de dependência estreita entre as condições finais de sua história, em relação às iniciais.
H. G. Wells, já apresentara conteúdo ficcional semelhante em “The Time Machine” (1895), onde um cientista tenta consertar o passado, indo e vindo pelo tempo.
Interessante que em cada tentativa de modificação do que já foi, os personagens padecem de uma turbulenta experiência de transformação caótica daquilo que ainda será.
Interessante... No caso de “The Butterfly Effect”, os diretores nos oferecem alguns finais alternativos para o filme.

3. Hipótese, incerteza, irrealidade, o condicional do que não foi.
O que serei eu lá onde não se fez ainda, lá onde não me fiz ainda eu, olhando-me para o ontem do que fui e que creio ter-me predestinado a ser o que sou e o que serei? A isto posso chamar de Destino. Será possível vencer o Destino? Algumas pessoas parecem vencê-lo... Destino?
Serei eu fruto de combinações, de predisposições, de ambientes, de estruturas biológicas, de condenações metafísicas? Ou apenas serei?

4. Tempo verbal das possibilidades – se tratando de pensamentos, tudo é possível, “seria possível”.
O verbo “conjecturar” é deveras importante para a Psicanálise. Instrumento poderoso, desde que não confundido com devaneios estapafúrdios que conduzem-nos a abstrações sem sentido.
Em seu “Delírios e Sonhos na ‘Gradiva’ de Jensen” (1907), Freud permite-se conjecturar. O jovem Norbert, fascinado pelo relevo em mármore de sua Gradiva, (re)encontra a morta-viva nas ruínas de Pompéia. A fascinação se dá pelo efeito de ser o objeto de seu desejo – sua Gradiva em sua Pompéia -, nada mais do que Zoe, a amiga de infância, uma infância perdida no ontem, que direciona o agora, e traz o desfecho do amanhã. Zoe, por seu lado, aceita o destino de morta-viva imposto pela desatenção de seu pai e identificado no não correspondido amor de seu colega de infância. Ao final da obra de Wilhelm Jensen, de 1903, o amor, tratado por Freud como forma de cura, vence o delírio do jovem Norbert: o Desejo sobre o Destino.
Para além de uma aula de Psicanálise, um Freud genial entregando-se a uma grande conjectura sobre a infância remota e um futuro que, neste caso, acaba em “Happy End”.

5. Futuro do Pretérito, tempo da lógica do inconsciente. O Inconsciente, de certa maneira, é Futuro do Pretérito – inconscientes de tantas relações infinitamente possíveis.
O sujeito humano é sujeito inserido no cotidiano (ou quotidiano, de “status quo” – função de localização espacial). O cotidiano dos homens, correria à parte, é constituído de diálogos, conversas. As conversas entre pessoas são regidas por um tema assentado sobre uma lógica, normalmente oculta. Conversa-se, mas conversa-se sobre o que? Sobre várias coisas ao mesmo tempo – camadas de temas sobrepostos a outros temas. Ao núcleo oculto de um tema, encontramos regras próprias que o sustentam, regras estas também ocultas, inconscientes.
Atualmente, através do desenvolvimento das ideias psicanalíticas que, aliás, estão sempre a se desenvolver, percebemos a importância de relativizar o Inconsciente freudiano não mais como um “topos”, um lugar, mas sim como o próprio sistema de regras que regem o cotidiano, ou cotidianos dos homens. Não temos, então, o Inconsciente, mas sim inconscientes relativos aos diversos e possíveis campos de discurso.
Conversamos sempre sobre um “agora”, localizado entre um pretérito experimentado neste momento e um futuro desejante e projetado também neste momento.
Sou Eu agora, entre o que fui e o que serei.

MARCOS INHAUSER SORIANO é psicanalista, editor da Revista Vórtice de Psicanálise.

quinta-feira, 26 de março de 2015

A SÍNDROME DE DOWN


Recentemente a prática médica tem incorporado métodos para a determinação do risco de ter um filho com SD, como por exemplo, o exame bioquímico, que se realiza mediante a avaliação dos níveis de substâncias químicas no sangue materno alteradas no caso da SD. Este exame se realiza entre a semana 14 e 17. A ultrassonografia também pode colaborar para detectar a SD, através dos marcadores ecográficos, principalmente da prega nucal, que pode ser medida a partir da décima semana de gestação. Estas últimas intervenções não são consideradas diagnósticas, para isso é necessário realizar os exames mencionados em primeiro lugar.

A síndrome de Down (SD) é uma alteração genética produzida pela presença de um cromossomo a mais, o par 21, por isso também conhecida comotrissomia 21.
A SD foi descrita em 1866 por John Langdon Down. Esta alteração genética afeta o desenvolvimento do individuo, determinando algumas características físicas e cognitivas. A maioria das pessoas com SD apresenta a denominada trissomia 21 simples, isto significa que um cromossomo extra está presente em todas as células do organismo, devido a um erro na separação dos cromossomos 21 em uma das células dos pais. Este fenômeno é conhecido como disfunção cromossômica. Existem outras formas de SD como, por exemplo: mosaico, quando a trissomia está presente somente em algumas células, e por translocação, quando o cromossomo 21 está unido a outro cromossomo.
O diagnóstico da SD se realiza mediante o estudo cromossômico (cariótipo), através do qual se detecta a presença de um cromossomo 21 a mais. Este tipo de análise foi utilizado pela primeira vez em 1958 por Jerome Lejeune.
Não se conhece com precisão os mecanismos da disfunção que causa a SD, mas está demonstrado cientificamente que acontece igualmente em qualquer raça, sem nenhuma relação com o nível cultural, social, ambiental, econômico, etc. Há uma maior probabilidade da presença de SD em relação à idade materna, e isto é mais freqüente a partir dos 35 anos, quando os riscos de se gestar um bebê com SD aumenta de forma progressiva. Paradoxalmente, o nascimento de crianças com SD é mais freqüente entre mulheres com menos de 35 anos, isto se deve ao fato de que mulheres mais jovens geram mais filhos e também pela influência do diagnóstico pré natal,que é oferecido sistematicamente  às mulheres com mais de 35 anos.
Como a SD é uma alteração cromossômica, é possível realizar um diagnóstico pré natal utilizando diversos exames clínicos como, por exemplo, a amniocentese (pulsão transabdominal do liquido amniótico entre as semanas 14 e 18 de gestação) ou a biópsia do vilo corial (coleta de um fragmento da placenta). Ambos os exames diagnosticam a SD e outras cromossopatias.
Embora as alterações cromossômicas da SD sejam comuns a todas as pessoas, nem todas apresentam as mesmas características, nem os mesmos traços físicos, tampouco as malformações. A única característica comum a todas as pessoas é o déficit intelectual. Não existem graus de SD; a variação das características e personalidades entre uma pessoa e outra é a mesma que existe entre as pessoas que não tem SD.
Cerca de 50% das crianças com SD apresentam problemas cardíacos, algumas vezes graves, necessitando de cirurgia nos primeiros anos de vida.
A intervenção médica pode acontecer com a finalidade principal de prevenção dos problemas de saúde que podem aparecer com maior freqüência na SD. Queremos destacar que a SD não é uma doença e sim uma alteração genética, que pode gerar problemas médicos associados.
Devemos olhar a pessoas com SD em sua singularidade, para que possa ter um pleno desenvolvimento enquanto sujeito.
Por Érica Silva

ercsilvapsico@bol.com.br

segunda-feira, 16 de março de 2015

A CONSCIÊNCIA DE UMA FUTURA PSICOTERAPEUTA


“Por outro lado, se renunciarmos ao nosso senso de segurança, e admitirmos ao nosso senso de segurança, e admitirmos que este ser diante de nós é tão complexo, único e misterioso como nós somos; é uma pessoa, e que essa pessoa existe dentro de um contexto, então toda a natureza do encontro muda.”

O texto: A Consciência do Terapeuta nos faz refletir sobre a importância de sermos nós mesmos durante todo o processo junto ao nosso cliente. Enquanto Psicoterapeutas e/ou futuros Psicólogos, temos que estar conscientes que nossas ações emergem de acordo com a direção que a relação Psicólogo x Cliente irá tomando. O Psicólogo não é o “expert” da situação, até porque, cada cliente traz consigo o seu mundo, portanto cada relação se transforma em um novo encontro. Durante o curso sempre escutei que o cliente que está nos livros, não é o cliente que vamos nos deparar a nossa frente, e isto é fato. É necessário estarmos livres e não acorrentados a pré-julgamentos, porém se faz necessário uma boa preparação e assim poder estar inteiro durante o encontro com alguém que você nem ao menos sonha que existe, mas ele existe e estará a sua frente despindo-se e dizendo que precisa de ajuda.


Rogers nos diz: “Sinto-me mais feliz simplesmente por ser eu mesmo e deixar os outros serem eles mesmos.” De acordo com esta afirmativa podemos entender o quanto é necessário para um terapeuta e/ou futuro da Abordagem Centrada na Pessoa ser ele mesmo e deixar-se encontrar, e assim cliente x terapeuta tornam-se pessoa numa relação única e singular, porém devemos nos lembrar que não sabemos quase nada sobre a natureza de um ser humano vivo, como afirma Maureen Miller no texto. A consciência do terapeuta deve ser ampla diante das diversidades trazida pelo seu cliente, pois nem tudo parte do psicológico, portanto devemos nos apropriar da situação que emerge. Concordo com a seguinte afirmação: “Com todos os milhares de volumes escritos e publicados sobre o tema da condição humana, podemos, se desejarmos, dar-nos a confortante ilusão de que entendemos nossa natureza.” Quando paramos e refletimos sobre essa consciência do terapeuta e entendemos que não somos os donos da verdade, percebemos que nós também criamos possibilidades de crescimento junto ao nosso cliente, portanto esta consciência deve ser livre e espontânea já que este encontro torna-se singular e acontece de pessoa para pessoa.


O ser humano não é uma máquina, nós não somos máquinas, o trabalho do terapeuta não acontece como apenas um copiar e colar, o trabalho do terapeuta transcende seu corpo, sua escuta, seu olhar em todos os sentidos. Segundo Heidegger: “A condição terrena do homem atual está ameaçada em seu âmago. Mais ainda: a perda da condição terrena não é causada apenas pelas circunstancias externas e fatídicas, nem tampouco consiste apenas na negligência e superficialidade do modo de vida dos homens. A perda da condição terrena provém do espírito da ética em que nascemos. (...) O propriamente assustador não é o fato de que o mundo se torne cada vez mais técnico. Muito mais assustador é o fato de que o homem não esteja preparado para esta modificação do mundo, que nós não tenhamos condições de, numa confrontação adequada, meditar ponderadamente sobre aquilo que ocorre, sobre aquilo que propriamente acontece nessa época.” O terapeuta deve sentir-se confortável e assim poder entrar poder entrar no mundo do seu cliente, livre de quaisquer prejulgamentos partindo ta aceitação incondicional. 
Érica Silva

ercsilvapsico@bol.com.br

sexta-feira, 6 de março de 2015

IMPLICAÇÕES DA PERÍCIA PSICOLÓGICA PARA O PSICÓLOGO JURÍDICO














Por Gabriel Mendes


O Psicologo jurídico encontra-se implicada em um jogo triangular de produção de verdade e de razão, no qual pessoas em litígio se colocam à disposição da decisão de uma terceira instância, o Poder Judiciário. Ocupa, assim, um lugar estratégico no jogo de sedução do poder e da Justiça, pois é supostamente capaz de produzir a verdade que irá, finalmente, dissipar todas as dúvidas e justificar a decisão que será tomada.
Nesse nível é que se forma a sensibilidade – certos modos de olhar e de escutar – na relação com as pessoas entrevistadas; as quais, por sua vez, trazem consigo suas próprias expectativas e suas demandas relativas.
Embora toda a entrevista psicológica exija certos cuidados técnicos e éticos em relação ao modo pelo qual o entrevistador conduz a si mesmo na relação que estabelece com o entrevistado, não se trata aqui de uma relação terapeuta-paciente. O enquadre ganha limites bem diferentes daqueles do consultório e, mesmo que o falar na primeira pessoa do singular, diante de um outro que escuta, provoque potenciais efeitos subjetivos aos quais deve-se estar atento, a entrevista deve ser sempre, no contexto da perícia, destinada a produzir o laudo ou a prova, atravessada pelo conflito judicial.
Dizer isso, porém, não significa acomodar-se a simplesmente escutar as partes e executar aquilo que é determinado, sem qualquer crítica. É possível, ao longo das entrevistas, trabalhar as fantasias e as expectativas relativas aos lugares atribuídos pelas partes, graças à atualização, pela via da transferência, das histórias singulares e das relações que precederam a abertura do processo, o que fica claro no transcorrer das entrevistas, através das mudanças de posicionamento e atitudes das partes ao ser entrevistado. Essas falas, construídas a partir de histórias singulares, envolvem afetos, fantasias e expectativas que, ainda que atreladas ao processo, escapam ao alcance do saber judicial. Uma intervenção que leve em conta o elemento transferencial pode contribuir para que se produza, nas, e pelas partes envolvidas, uma ressignificação dos conflitos e da própria demanda judicial.

Ao assumir, portanto, ser o portador de certa verdade, o psicólogo, como perito, deve avaliar todas as possíveis implicações e efeitos que sua produção pode produzir no campo intersubjetivo que o processo configura, para que o psicólogo possam construir, com ética, caminhos e práticas profissionais.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

O TABULEIRO E O SHOPPING CENTER: ONDE TRABALHAM OS NEGROS?





















Por Walmilson Barros


Voltando de mais um dia de trabalho me deparo com a história frente a frente, depois de um longo dia de aula que, como sempre, tenho que me transformar em mil passando de um mundo antigo a uma pós modernidade no mesmo dia e falando para cabeças com formações diferenciadas, eis que me confronto com meus conhecimentos.
Pego o bom e velho busão e vejo um senhor fustigado, exaurido depois de mais um dia de trabalho. Sua função? Vendedor de cocada. Uma forma de ganho de vida tão comum no período colonial que permanece até os dias atuais como um mecanismo de sobrevivência. Deparando com aquela imagem do velho senhor hiper cansado um monte de imagens sobrevieram e não tinha como não fazer a correlação com  a aula horas mais cedo, falamos sobre os povos escravizados e como era sua forma de trabalho, suas formas de resistências, e como até os dias atuais os trabalhos mais subalternos estão praticamente presos aos negros (pardos+pretos), isso denota o quanto ainda temos no Brasil em rever conceitos, formas de organização social que interferem na dignidade humana, não que um trabalho de vendedor de cocadas não seja digno, não é isso, mas a população negra merece chegar nessa idade (o senhor aparentava ter um setenta anos) com condições de aproveitar a vida, descansar depois de ter contribuído dentro de suas condições.

O tabuleiro me chamou atenção por que ele sempre esteve associado ao papel feminino na colônia com a quitandeiras, as baianas, hoje em pleno século XXI temos muitos desses vendedores que representam um resquício do período onde fica quase restrito ao trabalho realizado pela população negra. Outra observação gritante nesse processo trabalho/negros é a sua inserção no mercado, ainda é irrisória a participação deles em vários setores, é muito fácil fazer tal observação, basta olharmos os trabalhadores de shopping center, onde estão os negros? Lá também não são vendedores? Ao que observamos, não! Estão em grande maioria reservados ao trabalho braçal em copas e serviços de limpeza, quando não e estão em atendimento são como figuras estigmatizadas para “chamar” atenção”, como figuras “exóticas”. Do tabuleiro colonial ao shopping center moderno continua a velha e triste da segregação étnica Brasil, seja na rua ou em centros de compras fechados estão lá os negros prestando seus serviços.