quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

O TABULEIRO E O SHOPPING CENTER: ONDE TRABALHAM OS NEGROS?





















Por Walmilson Barros


Voltando de mais um dia de trabalho me deparo com a história frente a frente, depois de um longo dia de aula que, como sempre, tenho que me transformar em mil passando de um mundo antigo a uma pós modernidade no mesmo dia e falando para cabeças com formações diferenciadas, eis que me confronto com meus conhecimentos.
Pego o bom e velho busão e vejo um senhor fustigado, exaurido depois de mais um dia de trabalho. Sua função? Vendedor de cocada. Uma forma de ganho de vida tão comum no período colonial que permanece até os dias atuais como um mecanismo de sobrevivência. Deparando com aquela imagem do velho senhor hiper cansado um monte de imagens sobrevieram e não tinha como não fazer a correlação com  a aula horas mais cedo, falamos sobre os povos escravizados e como era sua forma de trabalho, suas formas de resistências, e como até os dias atuais os trabalhos mais subalternos estão praticamente presos aos negros (pardos+pretos), isso denota o quanto ainda temos no Brasil em rever conceitos, formas de organização social que interferem na dignidade humana, não que um trabalho de vendedor de cocadas não seja digno, não é isso, mas a população negra merece chegar nessa idade (o senhor aparentava ter um setenta anos) com condições de aproveitar a vida, descansar depois de ter contribuído dentro de suas condições.

O tabuleiro me chamou atenção por que ele sempre esteve associado ao papel feminino na colônia com a quitandeiras, as baianas, hoje em pleno século XXI temos muitos desses vendedores que representam um resquício do período onde fica quase restrito ao trabalho realizado pela população negra. Outra observação gritante nesse processo trabalho/negros é a sua inserção no mercado, ainda é irrisória a participação deles em vários setores, é muito fácil fazer tal observação, basta olharmos os trabalhadores de shopping center, onde estão os negros? Lá também não são vendedores? Ao que observamos, não! Estão em grande maioria reservados ao trabalho braçal em copas e serviços de limpeza, quando não e estão em atendimento são como figuras estigmatizadas para “chamar” atenção”, como figuras “exóticas”. Do tabuleiro colonial ao shopping center moderno continua a velha e triste da segregação étnica Brasil, seja na rua ou em centros de compras fechados estão lá os negros prestando seus serviços.

Um comentário:

  1. E quando vejo algum comentário sobre este me vem à cabeça as tais cotas pra negros em universidades... Apesar de não negar que há uma dívida histórica com os negros, continuo achando que as cotas potencializam a discriminação. Um negro que entra numa cota fica estigmatizado. Faço parte do grande contingente de pardos do país e me orgulho de nunca ter precisado deste tipo de ajuda para ter chegado onde estou... Saí de uma favela, trabalho desde os dezesseis anos e venci por méritos próprios. Sei que faço parte de uma minoria, mas ter conseguido tudo com muito suor me deu a certeza que tenho valor e este valor nunca será questionado por quem quer que seja. Ainda acho que, para que os negros/pardos não precisem de um tabuleiro o investimento em educação é imprescindível!

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