“Eu vivo sempre no mundo da lua, porque sou um cientista, o meu papo é futurista e lunático. Eu vivo sempre no mundo da lua, tenho alma de artista, sou um gênio sonhador e romântico.”
(Guilherme Arantes – Lindo Balão Azul)
Todos os anos no dia dois de abril
(02/04) comemora-se o Dia Mundial da Conscientização do Autismo data decretada
pela ONU (Organização das Nações Unidas), desde 2008, pedindo mais atenção ao
transtorno do espectro autista (nome “oficial” do autismo), cuja incidência em
crianças é mais comum e maior do que a soma dos casos de AIDS, câncer e
diabetes juntos. No Brasil estima-se que tenhamos 2 milhões de autistas, mais
da metade ainda sem diagnóstico. Segundo o DSM – V (2014), as características essenciais do
Transtorno Autista são a presença de um desenvolvimento acentuadamente anormal
ou prejudicado na interação social e comunicação e um repertório marcantemente
restrito de atividades e interesses. As manifestações do transtorno variam
imensamente, dependendo do nível de desenvolvimento e idade cronológica do
indivíduo. O prejuízo na interação social recíproca é amplo e persistente. Pode
haver um prejuízo marcante no uso de múltiplos comportamentos não-verbais (por
ex., contato visual direto, expressão facial, posturas e gestos corporais) que
regulam a interação social e a comunicação. Pode haver um fracasso em
desenvolver relacionamentos com seus pares que sejam apropriados ao nível de
desenvolvimento, os quais assumem diferentes formas, em diferentes idades. Os
indivíduos mais jovens podem demonstrar pouco ou nenhum interesse pelo
estabelecimento de amizades; os mais velhos podem ter interesse por amizades,
mas não compreendem as convenções da interação social. Pode ocorrer uma falta
de busca espontânea pelo prazer compartilhado, interesses ou realizações com
outras pessoas (por ex., não mostrar, trazer ou apontar para objetos que
consideram
interessantes). Uma falta de reciprocidade social ou emocional pode
estar presente (por ex., não participa ativamente de jogos ou brincadeiras
sociais simples, preferindo atividades solitárias, ou envolve os outros em
atividades apenas como instrumentos ou auxílios "mecânicos"). Frequentemente,
a conscientização da existência dos outros pelo indivíduo encontra-se bastante
prejudicada. Os indivíduos com este transtorno podem ignorar as outras crianças
(incluindo os irmãos), podem não ter ideia das necessidades dos outros, ou não
perceber o sofrimento de outra pessoa. Um dos únicos consensos entre a
comunidade médica em todo o mundo é de que quanto antes o diagnóstico for feito
e o tratamento iniciado, melhor será a qualidade de vida da pessoa com autismo.
Para muitos, o autismo remete à
imagem dos casos mais graves, porém há vários níveis dentro do espectro autista.
Nos limites dessa variação, há desde casos com sérios comprometimentos do
cérebro, até raros casos com diversas habilidades mentais, como a síndrome de Aserger (um tipo de
autismo) – atribuída inclusive aos gênios Leonardo Da Vinci, Michelângelo,
Mozart
e Einstein. Mas, é preciso desfazer o mito de que todo autista tem
“superpoderes”. Os casos de genialidade são raríssimos. Para minimizar essa
dificuldade de convívio social, vale criar situações de interação. Respeite o
limite da criança autista, seja claro nos enunciados, amplie o tempo para que
realize as atividades propostas e sempre comunique mudanças na rotina
antecipadamente. A paciência para lidar com essas crianças é fundamental, já
que pelo menos 50% dos autistas apresentam graus variáveis de deficiência
intelectual. Alguns, ao contrário, apresentam alto desempenho e desenvolvem
habilidades específicas – como ter muita facilidade para memorizar números ou deter um conhecimento
muito específico sobre informática, por exemplo. Descobrir e explorar as
“eficiências” do autista é um bom caminho para o seu desenvolvimento. A medicina e a ciência, de um modo
geral, sabem muito pouco sobre o autismo descrito pela primeira vez em 1943 e
somente 1993 incluído na Classificação Internaçional de Doenças (CID – 10) da
Organização Mundial de Saúde como um Transtorno do Desenvolvimento, que afeta a
comunicação, a socialização e o comportamento. Receber o diagnóstico de autismo é
sempre impactante para toda a família, principalmente para os pais. É natural que
com a chegada do novo membro da família, todos fiquem ansiosos e façam inúmeras
projeções, de como será este filho ideal e acabam mobilizando toda a família.
Porém, a partir do momento que todos percebem uma determinada diferença nesta
criança, acabam surgindo situações e emoções inesperadas no seio familiar,
como: angústias, conflitos, frustrações, medos, inseguranças. E em diversas
situações a mãe acaba virando alvo de críticas da sociedade, e devido sofrer
diante de tamanha pressão social, é a primeira a se culpar e achar que falhou
no processo educacional. Uma criança e/ou adolescente autista mobiliza em seus
pais o exercício diário que requer muito zelo, paciência, persistência,
fiscalização, disciplina, criatividade, e aumento da estrutura familiar, que
necessita de uma participação ativa de todos que estão diretamente envolvidos. Com
base nas experiências adquiridas na clínica, sugerimos algumas orientações aos
pais, como: informar-se; incentivar o filho a se cuidar sozinho; dar tarefas
para ele realizar; treinar a generalização do aprendizado; dividir as
responsabilidades dentro de casa; ter tempo para o parceiro; estabelecer uma
refeição ao dia em família; conversar com outros pais de filhos com autismo;
procurar oportunidades para seu filho desenvolver habilidades sociais;
trabalhar em conjunto com a escola; lembrar os erros do passado; criar
estratégias e por fim se faz necessário que a família busque ajuda
especializada e multidisciplinar, como: Psicólogo, T.O, Fonoaudiólogo, além de
ser acompanhado pelo profissional da área
Neuro. A ansiedade da família também
acompanha com o momento em que a criança autista vai para a escola, a vida
escolar é essencial e todos têm o direito de vivenciar essa experiência.
Sabemos que é na instituição escolar que aprendemos a ter convivência com os
grupos, com os pares, a se socializar, trabalhar em equipe e conviver com as
diferenças. E tudo isso é um grande passo para as pessoas que tem autismo, ou
seja, são os primeiros passos rumo à vida adulta. Os professores também são os
maiores aliados dentro desse contexto de desenvolvimento, o que eles podem
fazer? Eles podem avaliar os pontos fracos do aluno e sempre colocar em prática
estratégias. Este tipo de desempenho pode fazer uma grande diferença na vida
dele. Podendo através dessas ações modificar seu mundo e ampliar seu universo
de possibilidades, novidades e atrativos. Além de facilitar o processo da
socialização, tornando este momento repleto de harmonia e prazer. Portanto, a
escola deve ser muito mais que um simples lugar de ensinar, até por que os
autistas podem encontrar ali pessoas que irão acompanha-los por muitos anos.
Para que haja um bom acompanhamento e rendimento escolar por parte dos
autistas, é necessário que o professor esteja disponível para ajudar, além de
buscar capacitações na área. Entendemos que são várias a dificuldades
encontradas no decorrer da vida de uma pessoa autista, mas essas pessoas podem
ter um futuro repleto de sonhos, se acreditarmos nelas, devido ao transtorno e
não doença (o autismo não é doença), muitos têm sérios comprometimentos em seu
desenvolvimento. Mas, com a ajuda da família, de profissionais capacitados e
especializados, eles conseguem se potencializar, aprender através de seus
limites e superando todas as expectativas que são alcançadas, cada passo dado
pelo autista é uma grande vitória. É uma grande ilusão pensarmos que os
autistas vivem em seu próprio mundo. Não. Eles vivem em nosso mundo. Muitos
autistas, porém, têm dificuldade em interagir e se comunicar, por isso não
estabelecem uma conversa, ou mantém uma brincadeira, e tendem a isolar-se – não
porque querem, mas por não conseguirem. Ao pensar que o autista não tem um
mundo próprio, teremos mais chances de incluí-lo em “nosso mundo” com o
respeito que merecem, pois preconceito se combate com informação.
POR Érica Silva
Psicóloga Clínica/Escolar – CRP 02/18743
Especialista em Psicopedagogia
Idealizadora do GEAPE – Grupo de Estudos sobre o Autismo de
Pernambuco.
Palestrante e consultora escolar.
Colaboradora da Revista In-Evidência
e do Blog Dissertando Psicologia
Sócia-proprietária do VIVER – Psicologia e Consultoria.
Atua como psicóloga nas Cidades: Cabo de Santo Agostinho e
Jaboatão dos Guararapes.
Contato: 81 – 9 9748.2883