Por Hudson Eygo
Acadêmico de Psicologia do CEULP/ULBRA. Voluntário e administrador da fanpage do (En)Cena. Colunista do Blog Psicoquê? Membro do Centro Acadêmico de Psicologia do CEULP/ULBRA (CAPsi).
Acadêmico de Psicologia do CEULP/ULBRA. Voluntário e administrador da fanpage do (En)Cena. Colunista do Blog Psicoquê? Membro do Centro Acadêmico de Psicologia do CEULP/ULBRA (CAPsi).
Outro dia
fiquei abismado ao ver, por indicação de uma colega de faculdade, um blog
destinado a fotos de mulheres que fogem a padrões pré-estabelecidos de beleza.
Trata-se
do The Nu Project, mas não o indico pra quem não quer sair da posição de
comodismo, e muito menos quem não quer contestar sua realidade. As imagens são
curiosas, criativas e, em muitos casos, chocantes.
A
primeira coisa que me veio à cabeça ao observar o ensaio no site foi: O que diz
que estas mulheres não são bonitas? Porque a gordura é tão desprezada por nossa
sociedade? Qual o crime em se estar acima do peso? Em nossa contemporaneidade a
falsa liberdade moralista roubou dos seres humanos até o direito sobre o
próprio corpo, imprimindo em nossa personalidade uma imagem que deve ser
mantida, seguida e copilada. Mas até que ponto meu corpo representa minha
identidade? Sou o que ostento, ou o que ostento se corrompeu e assumiu a forma
do que sou?
É fácil
perceber esse movimento social em busca do corpo perfeito, basta nós nos
atentarmos para o crescente número de pessoas, nas mais variadas faixas
etárias, que frequentam as academias e se matam fazendo exercícios físicos,
usam anabolizantes, tomam inibidores de apetite e mergulham em dietas
milagrosas muitas vezes sem preparo algum, outras vezes, apoiados em dietas e na
orientação profissional de pessoas que se justificam na ciência ao proclamar:
Abaixo ao gordo!
Mas quem
foi disse que gordura não é sinônimo de felicidade?
A imagem
pré-concebida e difundida pelas mídias atuais é a de pessoas morbidamente
gordas e depressivas. Essa imagem está embutida em minha cabeça quando penso em
x-burguer ou em uma porção de batata frita, por exemplo. Não se pode mais
sentir prazer em comer, assim como não existe mais felicidade, beleza e nem
saúde fora de um corpo magro. E isso se torna um dos pretextos para as pessoas
que não conseguem alcançar o peso ideal acabarem depositando na comida a
solução para sua frustração.
“E dali
guloseimas pros gordinhos.” O mercado discrimina, mas o mercado estimula e
sustenta produtos altamente calóricos que viciam e deprimem.
Porque
corpos esculturais são tão ovacionados na atualidade?
É tudo
culpa de nossa sociedade que prega uma saúde vinculada a um corpo magro, e
moldado por horas e mais horas de dieta e academia. “Vamos lá, todo mundo,
contabilizando calorias”.
Mas até
que ponto o belo é magro?
Não
podemos esquecer o outro lado: o dos corpos esqueléticos de pessoas que, na
privacidade de seu banheiro, buscam no vômito uma solução patológica para seus
problemas com a balança, vomitando até o copo d’água, muitas vezes, a única
coisa consumida ao longo do dia inteiro.
E viva à
bulimia, à idiossincrasia, e ao ceticismo!
Agora,
perdido em meio às imagens do site, fico pensando que a mulher, por natureza, é
um ser belo. Suas formas divinas, mais arredondadas ou não, são agradáveis e
extremamente sensuais. A própria Vênus de Milo, imagem por centenas de anos
aclamada e tida como ícone de beleza, é cheia de formas curvilíneas.
E o que
mudou?
Fomos, ao
longo das décadas, nos prendendo a estereótipos e padrões de beleza.
Culturalmente o fora do comum tornou-se aversivo, ridicularizado e corrompido.
A humanidade têm se perdido em acordos culturais mudos, que pregam a discriminação
e retaliação de forma ativa e cientificamente estruturada. A condição humana é
hoje, tudo aquilo que é moralmente aceito. O resto é esquisito, irritante,
dispensável! Aprendemos desde o berço a não conviver com o diferente. É o
neoegoísmo de nossa sociedade, e porque não dizer, narcisista?
Foi o
homem quem se corrompeu, e se perdeu em sua bestialidade. Em muitas situações
somos mais parecidos que nossos parentes primatas, do que esperávamos. Por
vezes, até menos racionais.
O site
traz fotos de mulheres que carregam mais que um corpo fora de forma, são
pessoas que carregam um rosto moldado por um sofrimento que não precisa de
palavras pra se manifestar. O nu artístico dessas mulheres é carregado de
significado.
Elas não
estão exibindo seus corpos em troca de pena, nem implorando pela misericórdia
de uma sociedade vil e hipócrita, do contrário, elas estão gritando sua
dignidade, e direito à liberdade e igualdade diante de todos, sendo apenas elas
mesmas.
O que o
site almeja buscar com essas fotos vai muito além de uma simples aceitação
social dessas mulheres, bem mais do que isso, as fotografias cobiçam despertar
em cada mulher a redescoberta do amor por si mesma, pelo seu corpo, por sua
autoimagem, seja ela como for.
Meu
propósito aqui também não é o defender a obesidade, nem o de levantar a
bandeira a favor dos gordinhos, longe de mim. Também concordo que se é
comprovada uma patologia, a pessoa tem sim direito de buscar uma cura. Tampouco
quero é o de desacreditar a ciência, mas sim, alertar todos para questões
atuais, pertinentes e que precisam ser abertamente debatidas.
Texto
Originalmente publicado em: http://psicologia-ro.blogspot.com.br/2012/07/histerica-e-magerrima.html
Sim, concordo com o ponto de vista defendido, mas onde está o conteúdo sobre histeria anunciada lá no título? Falou, falou, falou mais um pouco, tudo o que a mídia já transmite, porém esqueceu de fundamentar esse discurso.
ResponderExcluir