Artigo do colunista Marcos InHauser Soriano
Nascida
mulher, possível detentora das projeções maternas, do que a mãe não foi, do que
a mãe gostaria de ter sido.
Se a
estética for desleixada, repreensões de um corpo perfeito que não se fez; se for
perfeita em sensualidade, recriminações sob o efeito do Supereu repressor. Que
Destino cruel este, da mulher contemporânea.
Destino, em
psicanálise é um pouco isso: a repetição incessante do que nunca pode ter sido,
o não falado (no sentido de comunicação possível).
Aqui não há
Pai, há Mãe.
A Inveja da
Mãe é, na maioria das vezes, fatal. Impõe à filha um eterno impasse,
suspeitoso, perdido entre o amor e o ódio – uma dívida/dúvida impossível de ser
paga.
Seus
efeitos, encontramos nos corpos disformes (em suas diversas representações
sintomáticas), nas regressões que impossibilitam a maturidade, nos radicais
preconceitos (que no fundo apontam à própria sexualidade), nas automutilações
(não apenas físicas), nas desorganizações psicóticas que rearranjam um Mundo
persecutório.
O embate
interno é violento, posto que o corte/morte do cordão umbilical se faz
necessário – mesmo contra a vontade da mãe, que teria que surgir em sua própria
loucura, sem mais o objeto filha.
Há de se
mostrar à filha da mãe invejosa a possibilidade de ser mulher, uma mulher
outra, para além das projeções aprisionantes.
Há de se
ser o que se poderia ter sido – uma filha a se desenvolver em solo próprio de
se tornar mulher. Sendo mulher, igual na diferença com a mãe, talvez sobre o
eco saudável e amoroso da filha que se foi um dia.
E no Futuro
do Passado vai surgindo... “E se Eu tivesse sido Outra, que não essa que nunca
fui?!?”... Estaríamos então, a começar a trilhar a Cura, no interjogo possibilitado
pelo Campo Psicanalítico.
MARCOS INHAUSER SORIANO é psicanalista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário