quinta-feira, 2 de maio de 2013

O QUE SERÁ QUE SERÁ, SEREI?




Artigo do colunista Marcos InHauser Soriano


Nascida mulher, possível detentora das projeções maternas, do que a mãe não foi, do que a mãe gostaria de ter sido.
Se a estética for desleixada, repreensões de um corpo perfeito que não se fez; se for perfeita em sensualidade, recriminações sob o efeito do Supereu repressor. Que Destino cruel este, da mulher contemporânea.
Destino, em psicanálise é um pouco isso: a repetição incessante do que nunca pode ter sido, o não falado (no sentido de comunicação possível).
Aqui não há Pai, há Mãe.
A Inveja da Mãe é, na maioria das vezes, fatal. Impõe à filha um eterno impasse, suspeitoso, perdido entre o amor e o ódio – uma dívida/dúvida impossível de ser paga.
Seus efeitos, encontramos nos corpos disformes (em suas diversas representações sintomáticas), nas regressões que impossibilitam a maturidade, nos radicais preconceitos (que no fundo apontam à própria sexualidade), nas automutilações (não apenas físicas), nas desorganizações psicóticas que rearranjam um Mundo persecutório.
O embate interno é violento, posto que o corte/morte do cordão umbilical se faz necessário – mesmo contra a vontade da mãe, que teria que surgir em sua própria loucura, sem mais o objeto filha.
Há de se mostrar à filha da mãe invejosa a possibilidade de ser mulher, uma mulher outra, para além das projeções aprisionantes.
Há de se ser o que se poderia ter sido – uma filha a se desenvolver em solo próprio de se tornar mulher. Sendo mulher, igual na diferença com a mãe, talvez sobre o eco saudável e amoroso da filha que se foi um dia.
E no Futuro do Passado vai surgindo... “E se Eu tivesse sido Outra, que não essa que nunca fui?!?”... Estaríamos então, a começar a trilhar a Cura, no interjogo possibilitado pelo Campo Psicanalítico.

MARCOS INHAUSER SORIANO é psicanalista.

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